11 de março de 2016

A MÃO QUE SEGURA O XIKILU/ADIJA

Sambamean

O Candomblé é uma festa de sentidos com seus cheiros, gostos, cores e ritmos. O cheiro das folhas, da terra e das comidas de santo. O gosto da fruta, do café fresco e da refeição partilhada. As cores dos panos, das plantas e dos enfeites. Os ritmos marcados dos atabaques, das palmas e dos instrumentos de percussão.
Neste banquete para os sentidos, você se percebe deliciosamente envolvida no caos. Mas olhe atentamente, olhe de novo, repare naquelas senhoras com suas vestimentas chamativas, seus panos no ombro e seus mulele mutue/ojás (pano de cabeça) com abas. São Senhoras de extremo poder, que inspiram respeito.
Estão ali para servir, para orientar. São o olhar que o mais novo procura quando quer saber que direção tomar. É a quem o Sacerdote recorre quando precisa de algo. É quem toma a iniciativa e a quem cabe a responsabilidade da decisão tomada. É quem puxa a roda, é quem dança com os Akisi/Orixás/Voduns divindades do candomblé de acordo com a origem étnica. É a mão que segura o adjá.
Não se deixe enganar pelo barulho as vezes alto que ele faz, e nem por sua aparência singela. O que você vê é realmente uma sineta de metal feito em bronze ou metal dourado ou prateado, podendo ser de uma, duas, três ou quatro campânulas, dependendo da finalidade.  Para os praticantes do candomblé de Angola ou de origem de povos Bantu, poderíamos chamar de Xikilu ou Ngenzu. Uma variação, seria o caxixi que é uma cestinha feita de vime que utiliza como base um pedaço de cabaça e tem sementes no seu interior.
Mas dentre tantos instrumentos iguais, o que os diferenciam uns dos outros?
O que o torna único é a quem ele pertence. É a mão com sua cadência única e sua marcação constante. Um Nkisi/ Orixá/ Vodum reconhece o som daquela que o guia, daquela que escolheu estar naquele caminho para servi-lo, e por isso responde ao seu chamado.
Uma muzenza/yaô (iniciada) reconhece o som daquela mão que passou pelos preceitos devidos para poder estar ali e guiá-lo. Um Ndumbi/abiã (postulante) reconhece naquela mão a orientação esperada e necessária. Não é um som qualquer, não é um tocar leviano.
É preciso cautela para carregá-lo pois daquele instrumento sai o som que traz estabilidade. É neste som que estamos contando para trazer de volta a mente que insiste em se dispersar, para marcar a posição, para nos guiar pelo barracão ou para fora dele, para abrir os caminhos nas matas, para trazer as divindades ao rito, Mesmo que não sejam manifestados em seus filhos ou para avisá-los que quem vem ali tem autorização para estar presente. É o som que nos une ao mundo que não vemos. O kikilu/caxixi materializa este mundo, tem o poder de guiar o Nkisi/ Orixá/ Vodun e com isso causar a manifestação num mona Nkisi/omo Orixá/Vodum (filho/filha). Por isso ele é pesado na mão, para lembrar do peso desta responsabilidade. Esta prerrogativa é exclusiva do objeto, cabe à mão a consagrada para fazê-lo. Sim, existem aqueles que não estão alinhados na energia, por razões infinitas, mas se preocupar com quem está fora de sintonia é valorizar esta atitude e deixar de cuidar de quem se entregou ao rito.
Nesta entrega o ego não pode ter vez, neste espaço não pode haver vaidade. O toque deve vir do coração e o som deve ter a sua cadência, por isso fica alinhado ao corpo perto do coração. A resposta deve vir também do coração, na certeza que cada um, dentro do seu papel, esta agindo dentro de um rito que escolheram como sagrado.
Todo caminho é sagrado, cada um tem o seu. Sigo feliz e realizada no meu e  agradeço a Nzambi todos os dias por ter quem é por mim quando não posso ser. Confio, respeito e me entrego às mãos que seguram o adijá/xikilu/caxixi!

Sambamean
Mona Nkisi da Nzo Jimona dia Nzambi
http://ngunzetala.wix.com/blog#!A-mão-que-segura-o-Xikiluadija/c218b/559a9b110cf2c7ea473ff0d0

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